
Fusca: ar-condicionado no padrão “original”
Duas décadas e meia após o fim da produção do Fusca nacional, proprietários do besouro finalmente podem contar com ar-condicionado no padrão “original”


O claustrofóbico interior é a principal razão para muitos proprietários de Fusca não usarem seus veículos com mais frequência no dia-a-dia – sobretudo nas grandes metrópoles, onde a violência impede que circulemos com os vidros abertos. Apesar do nosso clima tropical, a Volkswagen do Brasil jamais ofereceu a opção de ar-condicionado quando o modelo era vendido zero-quilômetro. Realidade bem diferente de outros mercados, inclusive no México, onde os besouros chegaram a sair da fábrica de Puebla com esse opcional de conforto.
E foi justamente inspirada no acessório mexicano que a brasileira Auto Club se baseou para criar o componente hoje disponível no mercado nacional. Localizada em São José do Rio Preto (SP), a empresa atua desde 1988 na instalação e manutenção de ar- -condicionado para veículos novos e antigos. “Naquela época era muito raro um dono de Fusca vir nos procurar, visto que a única opção existente para a antiga linha VW era a instalação de uma caixa evaporadora universal abaixo do porta-luvas, que além de atrapalhar o visual original do painel e não distribuir o fluxo de ar de forma uniforme, ainda roubava boa parte do espaço destinado às pernas do passageiro”, relembra Victor Campos, diretor comercial da Auto Club. Esse cenário mudaria radicalmente a partir de 2005, quando a empresa do interior paulista decidiu importar um sistema original produzido pela mexicana Airtemp, que em 1987 passou a atuar como fornecedora oficial para a Volkswagen de lá, responsável pelo ar-condicionado oferecido como opcional nos Vochos zero-quilômetro. “Com o molde nas mãos, conseguimos replicar a caixa evaporadora mexicana, cujo formato encaixa perfeitamente sob o painel do Fusca, e a partir dela montamos um kit de instalação completo seguindo o padrão estético do acessório original de fábrica, porém com peças disponíveis no mercado nacional”, conta Victor, que desde então só viu a demanda pela novidade crescer. “De lá para cá, mais de mil Fuscas já passaram pela nossa loja”, afirma o especialista, que junto com os sócios acabou fundando a Polaris, hoje responsável pela produção das caixas evaporadoras em escala industrial.
O cliente escolhe se deseja comprar apenas a caixa evaporadora ou o kit completo, composto de um compressor mecânico, duas polias (motora e tensora), chicote elétrico (plug-and-play por soquetes) e condensador. “Também fica a cargo do comprador decidir se quer montar o conjunto em nossa oficina ou se prefere instalar em sua cidade”, detalha Victor, lembrando que o serviço é razoavelmente simples e não requer nenhuma grande adaptação na estrutura do veículo. O compressor vai fixado em um suporte à esquerda do distribuidor. Para evitar trepidação, o prisioneiro do escapamento é substituído por um componente mais comprido, travando também esse suporte (o que exige um recorte muito pequeno no cofre do motor). Uma vez instalado, o compressor é acionado por meio de uma polia sobreposta à polia do virabrequim e uma correia trapezoidal. O conjunto é ligado por mangueiras ao condensador, que no caso do kit da Polaris vai instalado abaixo da saia dianteira. “Essa é uma melhoria que fizemos em relação ao sistema original mexicano, que usava condensador sobre o câmbio”, aponta Victor. “Levamos o componente para frente, livre da interferência do calor do motor. Além disso, o espaço sob a saia nos permitiu utilizar um condensador com dois ventiladores, melhorando a eficiência da refrigeração”, garante o especialista, que alerta apenas para o risco de danos em veículos muito rebaixados. “O condensador fica na mesma altura do eixo dianteiro. Se raspar um, raspará o outro”, adverte. Vale destacar ainda que a caixa evaporadora estilo “mexicana” é compatível para trabalhar com qualquer sistema de compressor, inclusive o elétrico, que tem sido a escolha de muita gente atualmente. “A vantagem do compressor elétrico é não ‘roubar’ potência do motor (de 5% a 10% no caso do compressor mecânico) e, consequentemente, não aumentar o consumo de combustível”, descreve Victor. “Por outro lado, ao contrário do componente mecânico, que pode ser instalado em qualquer antigo Volkswagen a ar original, o veículo deve estar preparado para receber o compressor elétrico, que normalmente trabalha com corrente entre 60 e 90 ampères e potência de 600 a 2.000 watts”, ressalta o especialista. Nenhum componente original do Fusca chega nessa carga, então é preciso rever itens como fiação do chicote, bateria e alternador, o que exige um estudo executado por um profissional capacitado.
Se não forem instalados corretamente, tanto o kit com compressor elétrico como o mecânico podem não entregar o conforto da sensação térmica desejada. “O ar-condicionado deve promover fluxo constante de ventilação e uma sensação térmica entre 16ºC e 18ºC, sendo que para isso o ar que sai da caixa evaporadora deve estar entre 4ºC e 7 ºC”, ensina o diretor da empresa do interior paulista.
Além do componente para o Fusca no padrão “original”, a Polaris também possui caixas evaporadoras genéricas de perfil reto, que encaixam perfeitamente no Karmann-Ghia e em outros modelos da família VW arrefecida a ar. “Temos também o sistema de módulos, que pode ser montado ao gosto do cliente. E em breve lançaremos um aparelho exclusivo para a Kombi Clipper, que aproveitará as duas saídas originais do painel e incluirá mais duas saídas de ventilação e um módulo de comando”, encerra o profissional.
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